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Sem norte e sem sorte

data-filename="retriever" style="width: 100%;">O mundo está atônito e desesperado. O Covid-19 parece ser o Cavaleiro do Apocalipse descrito no Evangelho de São João. É um inimigo insidioso, persistente, altamente contaminante e de efeitos catastróficos. Pouco se sabe sobre como enfrentar esta pandemia e suas mutações genéticas, que obrigam a busca de solução pelo método de tentativas de erros e acertos. Nenhuma das alternativas, até agora, é incontestável. Inclusive os vários tipos de vacinas não apresentam o mesmo espectro de proteção.

Em situações como esta, é necessária uma liderança firme, que tenha coragem de assumir responsabilidade e determinar um caminho a seguir. Mesmo assim, em casos extremos surgem contestações.

Em nosso país a situação se agrava, porque os que estão investidos de poder emitem sinais desencontrados, parecem mais preocupados em criar confusão do que assumir responsabilidades. A sensação de desamparo, de perplexidade aumenta e muitos passam a desacreditar em tudo. Isto agudiza o quadro.

O desamparo e desespero tende de levar a que se acredite em qualquer tábua de salvação. Cria-se uma espécie de estado de necessidade, que, no Direito Penal, é uma exculpante de responsabilidade civil e criminal. Exemplo clássico é a hipótese de náufragos, quando há apenas uma tábua de salvação que não suporta duas pessoas, um deles não será responsabilizado se sacrificar o outro.

Estamos numa espécie de naufrágio da humanidade.

Na pandemia, todos têm e não têm razão. O que serve para uns, não serve para outros. Uns podem ficar em casa, outros não. O patrão se não abrir seu negócio não poderá pagar seus empregados, os quais não terão o que comer. Os empregados, comparecendo ao emprego, estarão sujeitos a contaminação. Os estabelecimentos comerciais abertos, as pessoas transitando, se aglomerando, aumentam a transmissão do vírus e não há hospitais suficientes para atender aos infectados (isto não é no Brasil, é no mundo todo). A solução para um pode ser o mal do outro.

O distanciamento social é a medida mais eficaz, até agora, para cessar a transmissão do vírus, mas, como tudo, tem efeitos colaterais. A cloroquina tem efeitos colaterais, mas não tem eficácia garantida, chá de gengibre não tem efeitos colaterais significativos, mas também não se comprova sua eficácia contra o vírus, assim como pajelanças diversas.

Cada um pode adotar o que melhor lhe convém, mas não deve nem pode colocar em risco a vida de outros, transformando-se numa fonte de contaminação. O distanciamento, o uso de máscaras, se não for por convicção, deve ser por respeito ao outro.

Inacreditável mesmo é transformar o mal que aflige a todos em instrumento de manutenção ou de busca do poder político. É desumano desdenhar da morte e das sequelas que o Covid-19 deixa nos que sobrevivem. 

Cada um vivendo com seu interesse, sem norte e sem sorte, banaliza a tragédia e nos encaminha para a barbárie.

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